Archive for junho, 2009

Expedição Kuai Tema visita região norte do Paraná

terça-feira, junho 23rd, 2009

Entre os dias 31 de maio e 6 de junho parte da equipe Kuai Tema esteve em expedição visitando os pontos de cultura da região norte do Paraná. O documentador, Gustavo Guedes, e o articulador, Érico Massoli, conheceram in loco a realidade vivida pelas comunidades impactadas pelas iniciativas e também as dificuldades e desafios enfrentados pelas associações culturais que tocam os projetos.

Ao todo foram visitadas nove iniciativas nas cidades de Londrina, Maringá, Cambé, Cornélio Procópio e Sertanópolis. Embora nem todos sejam pontos de cultura oficialmente conveniados com o MinC, já realizam atividades culturais com a comunidade e tem relevância local. Além disso, foram realizadas conversas com alguns órgãos públicos e parceiros pontenciais.

Dentre os pontos de cultura visitados estão: Resgate da Cultura Camponesa, de Maringá, Malha Cultural e Cidadania, de Cambé, Arte por toda arte, de Cornélio Procópio, Pólo APAC, de Sertanópolis e Casa do Teatro do Oprimido, Escola Londrinse de Circo, Cia de Theatro Fase 3, Kino Arte e Pontão Cuca PR, todos de Londrina.

De modo geral, as impressões são positivas. Para o articulador Érico Massoli, “percebeu-se que os pontos são, via de regra, articuladores culturais importantes, buscando exercer a função social da cultura”. Evidente que a realidade encontrada não é homogênea e que há disparidades na atuação dos pontos. Alguns deles atuam voltados para públicos segmentados, como o Cuca, cujo objetivo é atingir os estudantes universitários de Londrina. Já outros estão mais preocupados com o impacto comunitário, buscando levar oficinas de arte a pessoas em situação de risco social – caso do Malha Cultural e Cidadania.

Segundo o documentador Gustavo Guedes, “nos municípios menores, onde a política cultural é, geralmente, tratada como acessório, é possível reconhecer de forma mais direta o impacto, uma vez que a comunidade, como não tem muitas opções disponibilizadas pelo poder público, se apropria das iniciativas de forma concreta”.

Para que o mergulho na cultura paranaense não pare por aqui, o Soylocoporti e o Pontão de Cultura Kuai Tema seguirão publicando matérias sobre as iniciativas visitadas. O objetivo é detalhar e esmiuçar tanto o impacto quanto as dificuldades encontradas pelos bravos paranaenses que se dedicam à inglória luta de se fazer cultura no estado.

Nosso viés continuará sendo o direito humano à cultura e as diversas formas de exercer essa função social básica que a cultura e a arte devem ter. Venha conosco nessa expedição! Siga nos acompanhando pelo blog: www.kuaitema.soylocoporti.org.br ou visite nosso portal: www.soylocoporti.org.br.

Comunicação e Cultura: pautas complementares

sexta-feira, junho 19th, 2009

Rachel Callai Bragatto
Membro do Coletivo Soylocoporti e da equipe Kuai Tema

Entre os dias 1 e 3 de dezembro acontecerá a I Conferência Nacional de Comunicação. A convocação pelo presidente Lula, mesmo que tardia, é um fato a ser comemorado pelos movimentos sociais e entidades que buscam uma maior democratização do setor e do país. Espera-se que com este evento possam ser discutidos temas centrais para a efetivação de parte das mudanças necessárias para o país.

Devemos ter na pauta questões como a imagem da mulher na mídia, a homofobia e o preconceito propagados pelos meios de comunicação de massa. Aguarda-se ainda o debate sobre o monopólio das concessões de rádio e televisão, a implementação do sistema público de comunicação, a universalização da Internet e da banda larga, a digitalização da TV e do rádio e a consequente migração dos canais analógicos para os digitais, além da entrada das teles no mercado de produção de conteúdo e a necessária regulamentação do setor.

Será, portanto, um momento em que as pautas políticas dos diferentes setores que compõem a sociedade brasileira poderão ser colocadas e defendidas, procurando incidir na definição das políticas públicas e na legislação brasileira.

Nesse sentido, avalia-se que para garantir as mudanças que julgamos fundamentais será necessária articulação e coesão do campo progressista e popular. Sem dúvidas, temos condições de construir um programa mínimo comum e, assim, fazer a defesa conjunta dos interesses difusos que fazem parte das mais diversas lutas.

O Coletivo Soylocoporti compreende que sua função nesse debate é contribuir para a construção de políticas que levem em conta a complementariedade da comunicação e da cultura – buscando a multiplicação dos atores envolvidos e a diversidade das idéias propagadas.

Nos atendo ao artigo 221 da Constituição Brasileira, concluíremos que as emissoras de rádio e TV devem buscar, preferencialmente, finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas, promovendo a cultura nacional e regional e estimulando a produção independente.

Porém, por que isso não ocorre? Por que um princípio contitucional, previsto em nossa carta magna, é desobedecido diariamente na maioria das emissoras comerciais?

A resposta é, ao mesmo tempo, muito simples e muito complexa. Por um lado, podemos dizer que o que falta é a regulamentação do princípio. Dessa forma, precisamos responder a questões como: que regulamentação queremos? Em qual sentido apontaremos? E, portanto, o que é produção regional? O que é produção independente? Como medir se um programa tem finalidades culturais? Quanto de produção regional e independente devemos ter?

Nesse debate entram, é lógico, fatores econômicos e o desafio político que é mexer com os barões da mídia corporativa nacional e mudar as regras do jogo. Regulamentar este princípio de forma progressista é garantir espaço para muitos produtores e produtoras que são diariamente escanteados e cujo trabalho não alcança visibilidade pública. Significa alterarmos a relação de forças e darmos voz à outras produções, a atores que tem o que dizer mas não conseguem veicular suas manifestações.

Além disso, por outro lado, devemos nos questionar que tipo de produção iremos publicizar ao conseguirmos esse espaço. Não é apenas uma questão política, mas um aspecto que diz respeito ao formato que adotaremos. Isto é, ao alcançarmos a esfera da visibilidade pública, de que forma exporemos nossas idéias? Como nos comunicaremos? Iremos adotar os mesmos padrões utilizados hoje em dia ou acreditamos que a cultura tem diversas formas de expressão e que precisamos nos valer delas?

Sendo assim, compreendemos que cabe aos movimentos culturais buscar essas formas e trazê-las à luz. É preciso que mostremos que temos condições de nos apropriar dos meios de comunicação e que temos o que dizer, tanto nos formatos tradicionais quanto em formatos novos, provocadores, inusitados. Já o movimento de comunicação precisa se voltar para esse debate mais técnico, lutando para que possamos incidir, de fato, na produção regional e independente, garantindo a regulamentação necessária para uma real efetivação desses aspectos.

É uma luta de mão dupla e apenas juntos podemos avançar. O Soylocoporti segurirá contribuindo nesse sentido. Cabe aos movimentos e entidades que ainda não despertaram para esse momento histórico virem se somar ao processo, trazendo suas idéias, propostas e contribuições. É a hora de fortalecermos nossa plataforma política mínima para a I Conferência Nacional de Comunicação, acumulando propostas e desenhando a mídia que queremos ver nesse país e a cultura diversa que deve ser propagada!